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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A PONTE DE ARAME

O Outono frio e chuvoso convida ao aconchego da lareira transmontana. Porém, o dia seis de Dezembro acordou ameno e propício aos viajantes. Tinha sido avisado. O destino era Ribeira de Pena. E assim foi. Chegados ao local, por uma estrada alcatroada, mas de piso irregular, entrámos numa estrada inclinada e estreita, em empedrado, até que uma ponte suspensa nos barrou o caminho – A Ponte de Arame.
Sustentada por firmes espias de aço, a ponte balança sobre o rio Tâmega, parecendo a todo o momento que se vai despenhar no rio, para susto dos menos corajosos e avisados. Ao início da ponte, uma alusão a Camilo Castelo Branco. Naquela zona de Ribeira de Pena viveu e igualmente casou. Não consta, porém, que a ponte tivesse sido construída na época de Camilo. Pela informação divulgada, julga-se que já existia aquando da Primeira Grande Guerra Mundial. É a convicção que emerge no caminhar dos tempos e por testemunho oral. A Ponte liga a Ribeira de Santo Aleixo de Além-Tâmega. Nas épocas de Inverno o rio era intransponível, daí a razão da construção da ponte pênsil. Anteriormente, pessoas, bens e mercadorias eram transportadas em barcas de fundo chato, ou através de vaus, nas numerosas poldras e açudes, sempre que o rio se apresentava caudaloso.
Neste bonito país que é o nosso, há muito que descobrir. A Ponte de Arame, de Ribeira de Pena, é destino a visitar. O bucolismo da paisagem, o Tâmega a serpentear por entre margens de arvoredo belo e denso, e todo o enquadramento do local, não deixa certamente de impressionar o menos sensível.
Do painel informativo, respigo duas passagens de livros de Camilo Castelo Branco e alusivas ao local, e que passo a transcrever: "...ao avistar as poldras que alvejavam poídas e resvaladiças ao lume de água teve vertigens e disse: “Eu vou morrer(…) Depois, benzendo-se, pisou com firmeza as quatro primeiras pedras, mas daí por diante ia como cega; a corrente parecia-lhe caudal e negra … (Camilo Castelo Branco, em Maria Moisés …)
“… Estava de lado de além a barca. Bernardo Pires, chamou algumas vezes o barqueiro. Ninguém respondia; mas dera por ele uma rapariga, irmã do dono da barca e da azenha… (Camilo Castelo Branco, Doze Casamentos Felizes …)
Na vertigem de um suposto progresso, fala-se agora que este idílico local vai ser submerso por uma barragem a construir por “nuestros hermanos”, já no ano que agora começa. A informação é contraditória. Esperemos que reine o bom senso. Que esta bela paisagem descrita pela pena de Camilo não passe apenas a ser algo de ficção, subtraída aos vindouros por mais um desenfreado atentado contra o nosso património. O Tâmega, as suas margens, e a já idosa Ponte de Arame, merecem respeito. E nós também.
Quito

4 Comentários:

Blogger Manuela Curado disse...

Após a leitura pausada deste texto sobre tão idílico lugar, não pude deixar de escapar alguns suspiros.
Os primeiros de melancolia perante a paisagem outonal e os seguintes de agonia e raiva pelo descontrolado "progresso" que mutila e aniquila tanta regiâo de inegualável beleza.
São perdas irreparáveis e muitas das vezes desnecessárias.
Faz doer

6:40 da tarde  
Blogger celeste maria disse...

Sempre agradável ler certas curiosidades desconhecidas.
As fotos bonitas!
Quem fotografou?
A São,arrisco-me a afirmar...

8:09 da tarde  
Blogger DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

Tiveste tempo para passear apreciando tão belos locais..mas confessa que também foi para poderes fazeres bem a digestão da almoçarada...
Quanto à barragem se eles os que "mandam" já disseram que a vão fazer...

1:37 da manhã  
Blogger Chico Torreira disse...

Não haja dúvida que se os Cavalinhos derem a conhecer locais como este, ficamos todos mais ricos. Gostei do que vi nas fotografias além da excelente descrição. Se tal se vier a confirmar no que respeita à submersão do local, é lamentável perder-se uma obras dessas com esse ambiente. Para isso muito interessam os grupos de pressão para levarem a quem de direito, a retirá-la para a pôr noutro lado. Mesmo que não haja lugar neste momento para a reedificar com um ambiente idêntico, ficaria para uma próxima oportunidade a curto prazo.

O Canada é constituído por províncias confederadas e não creio que alguma permitisse tocar na sua autonomia dessa forma, pelo que fiquei admirado com o que acabo de ler.

Já estou quase a dar razão à anedota alentejana quando foram ter com o presidente da Câmara pois queriam uma ponte, como na aldeia vizinha. Quando o senhor lhes respondeu que nem rio tinham, disseram-lhe que se fizesse a ponte pois que a água havia de vir. Neste caso é o inverso, retire-se a ponte porque ela está para vir.

Bem, mas aqui, ao confirmar-se o alagamento do local não é nenhuma anedota mas deixar ir uma ponte dessas, com esse ambiente, pela água abaixo, é triste.

Um abraço e muitos artigos como este pois servem para alertar.

1:42 da manhã  

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