A VIDA NUM SOPRO
Caros Amigos
Cheguei hoje à Beira Baixa, e depois de ler toda a correspondência que foi chegando ao longo dos dias em que estive ausente, detive-me sobre os textos escritos no blog, em que, para além da alegria natural que transparece em alguns - no meu caso também - por finalmente terem a oportunidade de conhecer pessoalmente alguns amigos, o tema dos anónimos é também contemplado, registando eu algumas opiniões desassombradas e que muito vieram, em meu entender, enriquecer o debate que agora se pretende estabelecer sobre o assunto.
Revi um pouco, depois de meditar sobre o que li, a minha posição no que concerne ao comentário anónimo bem intencionado ou até jocoso. Julgo, porém, que há sempre uma meta, há sempre uma fronteira, e comentários há que roçam o intolerável e que dificilmente se podem aceitar de ânimo leve.
Os tais “canibais” como já alguém definiu no blogue.
No dia do nosso encontro – cabe-me aqui um especial agradecimento aos amigos Tó Ferrão e Abílio Soares pelo excelente trabalho realizado – tive a oportunidade de falar com algumas amigas e gostaria aqui de dizer, e creio não estar a cometer nenhuma inconfidência, da conversa que estabeleci durante o almoço com a nossa amiga Daysi, médica-escritora , e da reflexão que ela fez de que escrever é um acto solitário, e que o livro que gentilmente me ofereceu foi escrito quando estava numa grande cidade, mas longe das pessoas mais queridas e a escrita era um pouco como um estado de alma, se bem entendi.
Também eu, aqui da Beira Baixa, isolado nesta pequena aldeia, vou por vezes exprimindo um pouco o que me vai cá dentro, sem que daí se possa induzir que eu tenha qualquer vocação para a escrita. Escrevo pela necessidade de escrever, de sentir que não estou morto, apenas longe dos amigos e da cidade que é a minha.
E é nesses momentos, quando em qualquer texto que é publicado aparece um comentário agradável me sinto confortável, ou um comentário que, pelo menos, não seja acintoso para quem, de alma lavada, apenas pretende colaborar num blogue de um bairro, do nosso bairro.
Há pouco estive sentado na esplanada do Café “Portas da Serra”, com um pequeno vale verdejante a meus pés, a louca correria das andorinhas, e a profusão de aromas e de cores com que a Natureza nos contempla no campo, neste quase começo de Primavera. Dei comigo a pensar em como ando em contra ciclo. Enquanto a Primavera se adivinha, eu corro inexoravelmente para o Outono da vida, e pela frente, daqui a uns anos, se nenhuma doença traiçoeira me devassar o corpo e a alma, ou se na pressa de chegar a Coimbra numa sexta-feira, a minha vida não tenha um ponto final parágrafo numa curva assassina da auto-estrada, terei pela frente o que me resta - o Inverno da vida. A Natureza tem o dom de se transfigurar quatro vezes por ano. Com o Homem, porém, não há contemplações.
E é por isso meus amigos, quando há dias uma amiga em resposta a um e-mail que lhe mandei agradecendo algo de muito agradável que comentou sobre algo que escrevi, me respondeu que estamos numa fase da vida em que valorizamos a amizade, eu me sinto tão mal com o comentário destrutivo ou ofensivo. Como diria o Jó-Jó a um comentário a um texto meu:….eu pecador me confesso…
Como vos disse estive a reflectir sobre tudo o que li, aqui nesta pacata aldeia de Salgueiro do Campo, onde o tempo corre devagar, e pude constatar que desde os dias em que lançava os meus papagaios de papel ou esforçadamente tentava ganhar uma corrida de triciclos na Rua A, a vida correu num sopro.
Quito
Cheguei hoje à Beira Baixa, e depois de ler toda a correspondência que foi chegando ao longo dos dias em que estive ausente, detive-me sobre os textos escritos no blog, em que, para além da alegria natural que transparece em alguns - no meu caso também - por finalmente terem a oportunidade de conhecer pessoalmente alguns amigos, o tema dos anónimos é também contemplado, registando eu algumas opiniões desassombradas e que muito vieram, em meu entender, enriquecer o debate que agora se pretende estabelecer sobre o assunto.
Revi um pouco, depois de meditar sobre o que li, a minha posição no que concerne ao comentário anónimo bem intencionado ou até jocoso. Julgo, porém, que há sempre uma meta, há sempre uma fronteira, e comentários há que roçam o intolerável e que dificilmente se podem aceitar de ânimo leve.
Os tais “canibais” como já alguém definiu no blogue.
No dia do nosso encontro – cabe-me aqui um especial agradecimento aos amigos Tó Ferrão e Abílio Soares pelo excelente trabalho realizado – tive a oportunidade de falar com algumas amigas e gostaria aqui de dizer, e creio não estar a cometer nenhuma inconfidência, da conversa que estabeleci durante o almoço com a nossa amiga Daysi, médica-escritora , e da reflexão que ela fez de que escrever é um acto solitário, e que o livro que gentilmente me ofereceu foi escrito quando estava numa grande cidade, mas longe das pessoas mais queridas e a escrita era um pouco como um estado de alma, se bem entendi.
Também eu, aqui da Beira Baixa, isolado nesta pequena aldeia, vou por vezes exprimindo um pouco o que me vai cá dentro, sem que daí se possa induzir que eu tenha qualquer vocação para a escrita. Escrevo pela necessidade de escrever, de sentir que não estou morto, apenas longe dos amigos e da cidade que é a minha.
E é nesses momentos, quando em qualquer texto que é publicado aparece um comentário agradável me sinto confortável, ou um comentário que, pelo menos, não seja acintoso para quem, de alma lavada, apenas pretende colaborar num blogue de um bairro, do nosso bairro.
Há pouco estive sentado na esplanada do Café “Portas da Serra”, com um pequeno vale verdejante a meus pés, a louca correria das andorinhas, e a profusão de aromas e de cores com que a Natureza nos contempla no campo, neste quase começo de Primavera. Dei comigo a pensar em como ando em contra ciclo. Enquanto a Primavera se adivinha, eu corro inexoravelmente para o Outono da vida, e pela frente, daqui a uns anos, se nenhuma doença traiçoeira me devassar o corpo e a alma, ou se na pressa de chegar a Coimbra numa sexta-feira, a minha vida não tenha um ponto final parágrafo numa curva assassina da auto-estrada, terei pela frente o que me resta - o Inverno da vida. A Natureza tem o dom de se transfigurar quatro vezes por ano. Com o Homem, porém, não há contemplações.
E é por isso meus amigos, quando há dias uma amiga em resposta a um e-mail que lhe mandei agradecendo algo de muito agradável que comentou sobre algo que escrevi, me respondeu que estamos numa fase da vida em que valorizamos a amizade, eu me sinto tão mal com o comentário destrutivo ou ofensivo. Como diria o Jó-Jó a um comentário a um texto meu:….eu pecador me confesso…
Como vos disse estive a reflectir sobre tudo o que li, aqui nesta pacata aldeia de Salgueiro do Campo, onde o tempo corre devagar, e pude constatar que desde os dias em que lançava os meus papagaios de papel ou esforçadamente tentava ganhar uma corrida de triciclos na Rua A, a vida correu num sopro.
Quito
Etiquetas: Quito
8 Comentários:
Lindo texto meu amigo.
Pressinto um pouco de nostalgia nas tuas palavras.
Se Deus nos permitir, temos ainda uns largos anos pela frente.
Quando te surgir essa envolvente tristeza pensa que também eu...talvez... a esteja, na mesma hora, a comungar contigo.
Juntos, todos...teremos mais força para a destronar e colocar em seu lugar, uma vontade imensa de continuar a vida com muita alegria.
Estou aqui para te acompanhar.
Um beijo de muita ternura.
Quito
Pensas tu e pensamos todos!
E PENSAR, não significa tragédia mas interiorizar o DEVER que temos
de viver este ciclo da vida,a que chamas Outono, da melhor maneira
possível...valorizando intensamente
o que HÁ de BOM e desvalorizando e não perdendo tempo com o supérfulo.
Já desfrutámos a grande ALEGRIA
de chegar até aqui e ainda vamos ter muito folego para concretizarmos metas e vivenciar variadíssimas PRIMAVERAS deste período outonal ( e tu ainda és um
puto!).
Continua a contemplar essa paisagem
maravilhosa que é um privilégio
que tu tens e nós não...e
a escrever para ti mas partilhando connosco essa escrita!
um beijinho e outro para a São
Olinda
muito mais para caminhar
Aproveito a onda da Olinda e chamo-te puto. Com isso estou a dizer-te que o fim da tua rota ainda vem longe...
Mas tal como tu tambem eu sinto a solidão e alguma tristeza quando regresso a Lisboa depois de uns dias passados em Coimbra no meio dos nossos amigos de juventude.
Sim, Quito, a solidão sente-se tanto na tua pequena aldeia como na minha grande cidade.
Com a diferença de que aqui não vejo as andorinhas a esvoaçar...
Mas mais importante que isso é que posso pensar, para afastar essa solidão, nos belos momentos do nosso almoço de domingo passado.
Um abraço
Rui Felicio
Quito,
Bonito texto.
Não te consideras escritor, mas escreves bem e eu gosto, nós gostamos!
Como sabes, a Daisy, não escreve no computador, mas manda-te um beijo, pelas tuas simpáticas palavras.
Com a quantidade e qualidade de amigos que tens, não há inverno que chegue!!!
Um abraço,
Alfredo
Quito:
Essa nostalgia, essa ponta de angústia, não é mais do que o rebentar da folha primaveril... faz parte do nosso biorritmo do humor. Tornamo-nos mais contemplativos, mais introspectivos e surgem, muitas vezes, umas résteas de depressão.
Tu vais arrebitar até porque ( Estamos num país que se atravessa em poucas horas!)em minutos apareces para tomar uma bica no bairro, remédio milagroso, que ainda não vendes na tua Farmácia.
Caro Amigo Quito,
Ontem vi o teu belo texto e deixei aqui uma mensagem que tentei enviar, convencida de que tinha conseguido. Hoje de manhã, chego à conclusão de que o meu comentário não atingiu o seu objectivo e, entretanto já perdeu a oportunidade porque todos os comentadores já disseram aquilo que eu queria transmitir.
É nos momentos de nostalgia que a fragilidade se instala na alma e é nesses momentos que o mundo nos consegue atingir, provocando danos, mas também é nesses momentos que a nossa alma se dilui no amor, na ternura e na amizade.
Um abraço da Isabel Parreiral
Oi Quito! Entendo-te perfeitamente e, muitas vezes, já senti essa saudade, esse desanimo e até medo agora que estou na recta dos 65 anos. Mas temos sempre que dar a volta. Vou contar o meu último "desânimo" - Se há coisa que sempre gostei na vida foi de conduzir e sempre pensei nisso como a minha grande independência que o foi. Também tinha a "lucidez...(?)" de pensar que, quando ia alguém na minha frente já causando alguns problemas, iria sair da estrada a seu tempo. Tudo correu bem enquanto fui jovem e menos jovem. Há uns 3 meses tive um flash de que estava quase na hora de fazer o que sempre me propuz e uma tristeza enorme me assaltou. Mas de repente e,também com a ajuda do bendito Cipralex, o meu estado de choque se desanuviou e logo pensei: Boa, foi óptimo ainda não ter conseguido vender o apartamento da Granja. Assim poderei por mais um tempo andar diariamente 50Kms. E assim foi, embora honestamente espere vender rápido o ap., juntamente com o Sol que apareceu a minha "juventude spritista" se renovou. Desculpem este texto enorme mas, tal como o Quito, também tenho momentos de desalento.
Um xi muito apertadinho para todos
Óh Quito!
Linda-a-Velha é mais longe!
Continua a escrever!!!
Não é uma questão de literatura, é uma questão de sensibilidade.
Ninguém espera que escrevas um simpósio ou um código civil.
Para isso há muitos voluntários...
Continua, e um abraço.
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