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sexta-feira, 30 de maio de 2008

CROMOS DO D. JOÃO III - FÍGARO

Série cromos do D. João III
Histórias do Bairro
29-05-2008

O FIGARO

Não faço a mínima ideia da razão de ser da alcunha. Ao contrário do que possa parecer o homem não tinha nada a ver com ópera. Foi meu professor de Ciências Naturais no 2º ciclo do liceu.
Eu por natureza já detestava aquelas coisas da dissecação das rãs e dos sapos, de guardar florzinhas espalmadas dentro dos livros, arrepiava-me um esqueleto humano que ele gostava de ter ao lado da secretária, como se fosse seu guarda costas, enfim aquelas aulas eram para mim um suplício.
Mas com o feitio do Figaro a agravar a minha falta de predisposição, acho que fiquei vacinado para o resto da vida.
O Figaro era mau... Digo-o sem rebuço porque notava-se um prazer imenso no seu facies quando pespegava com uma negativa a qualquer um de nós, em especial àqueles que eram tidos como bons alunos nas restantes disciplinas.
Mas, como tantos outros, tinha as suas fraquezas, que nós, atentos, explorávamos sempre que possível.
Aquela peste ( não tem nada a ver com o GIM que era uma peste boa ), era adepto ferrenho do Lusitano de Évora que andou vários anos pela 1ª Divisão do futebol, mas sempre na corda bamba para não descer.
Ou seja, o Lusitano do Vital, do Patalino, do Fialho e do Ze Pedro, raramente ganhava jogos. Empatava muitos e perdia muitos mais, o que quer dizer que o Figaro andava por norma mal disposto por causa dos desgostos que o clube lhe dava.
Mas quando o Lusitano ganhava, o que, como disse, era raríssimo, podíamos aproveitar na 2ª feira seguinte ao jogo para melhorar a nota, porque o Figaro aí abria-se todo.
Num dos exercícios ( teste como agora se diz ) para apuramento da nota do período ( só fazia um exercício por período, com cinco perguntas! ), o Gil, que foi meu colega de turma no 4º ano, estava ser incomodado por uma mosca que não parava de circular em volta da sua cabeça, desconcentrando-o.
Por isso, pediu ao Figaro, que estava sempre atentíssimo aos copianços, autorização para abrir a janela e enxotar a mosca.
O Figaro não autorizou, desconfiado como sempre, e disse-lhe:
-
Oh rapaz, deixa lá a avezinha em paz!
Era aquele gajo professor de ciências naturais...
Rui Felício

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4 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Felício:
Com a tua habitual verborreia, parece-me que já estás a meter 'água' . Essa história das pobres das avezinhas (moscas) era do Dr. Albuquerque ( o mqassa especifica) e não do Fígaro, ou estarei equivocado?

Um abraço

Victor David
O Judeu

10:18 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

O Fígaro foi também meu professor de Ciências Naturais. Foi aliás o único gajo que me reprovou na minha vida (se excluir o meu primeiro exame de condução. Mas esse pseudo-engenheiro que me chumbou só porque subi o passeio na inversão de marcha, passou depois por um mau bocado quando virou estudante de engenharia a sério e me apanhou como professor. Confesso que não sou, nem nunca fui, vingativo. Não tenho é culpa de haver tipos fortes quando pensam que mandam e se borram todos quando têm que provar o que valem. Desistiu! Cobardolas. Assim não tive sequer aquele prazer...)

Voltando ao Fígaro, casado com uma professora de Francês do D.Maria, e que era, pasme-se, normal. O homem gostava de bagaço como eu do sexo oposto (OK, escusam de mandar bocas tipo "Eh pá, então o gajo era abstémio?"). Ele entrava na sala com o seu chapéu de chuva e demorava um tempo infinito até se conseguir sentar sem cair. O bafo dele empestava a sala e, pensando bem e retrospectivamente, não sei se ele não foi responsável pela minha atracção pelo álcool - de qualidade, claro. É que aquilo penetrava pelas narinas e eu já nem queria saber de mais nada. Simplesmente flutuava. Uma segunda-feira, dia terrível pois em vez de estudar era futebol e borga, o Fígaro vai desfolhando sadicamente a caderneta enquanto olha para nós até que se decide:"Oh 21, vem ao quadro." Já todos adivinharam. EU ERA O 21!!! Desde logo tive que mostrar sagacidade em matemática e intuição para problemas mal formulados, quando ele me disse "Oh 21 coloca-te a 2/3 do estrado". Alguém entende isto? Eu percebi. Tinha que estar afastado dele o suficiente para não sentir o bafo. Coisa que, como disse era o que mais me interessava no Fígaro. A coisa começava mal para mim. Sai uma pergunta, e eu népias. Vai o homem começa a perguntar à rapaziada da turma, que já só se ria por estar salva e haver um desgraçado pé descalço - tipo moucassins, a quem a coisa corria mal. Tramaram-se. Com tanta resposta igual ao vazio, o Fígaro começou por dizer "Oh 21, estás a estender-te". Algumas perguntas depois, e respostas nem vê-las, a frase final: "Oh 21, estendeste-te!!". Recebi a notícia com alívio, pois a minha timidez não me permite essas mariquices de gostar da exposição pública. Isto só se tornou mais complexo quando o Fígaro disse que me acompanhavam na desdita mais 5 marmanjos que também não tinham respondido a nada. Salvou-se o nº 6, o Gouveia Monteiro que além de filho do então Reitor da UC, era inteligente e estudava! Cá fora a coisa ferveu. Mas estou vivo!

Jó-Jó

10:56 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

O Figaro não corrigia os pontos em casa.
Eram as celebres 5 perguntas. No ultimo ponto de 3º periodo do 5º ano, que poderia chumbar alguns alunos, a coisa correu mal para alguns deles.
Quero aqui louvar o meu ex-colega Pinto Lopes que era de Sta Clara e era o nº 4 do 5º C,mesmo em frente do Figaro.
Como sabem, o Figaro pedia para um ou dois alunos ir ler os pontos dos seus colegas.
Havia na turma 3 gajos meio correcios, que sabiam o que tinham feito no ponto e que chumbariam naturalmente, pois na matematica a coisa ja estava definida com o Silveirinha.
Num grande movimento de solidariedade, determinou-se com o Firmino chefe de turma , que quem fosse ler, teria de inventar e acertar as respostas do exercicio dos 3 malandros. Eram o Eliseu, o Carlos Vacão e o Arnaldo da Cruz de Celas.
O Pinto Lopes ofereceu-se para ler os exercicios..... e não é que estes tiveram das melhores notas.
Pois o Pinto Lopes sabia ja de cor quais as respostas.
O Pinto Lopes, foi um homem de coragem e de grande dignidade a quem mando aquele abraço. Safou os colegas.....coisa que parece ser hoje impensavel aparecer alguem voluntario para fazer isso.
E o Figaro lá foi enganado com muita " pinta".
Como testemunhas podem perguntar ao carlos Encarnação e ao Carlos Loureiro.

12:42 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Oh Vitor David, es mesmo amigo da onça. Deixa o Felicio contar as estorias dele. A memoria já é transversal.
Se o Jose Hermano Saraiva enfia cada galga, deixa o rapaz contar as suas.

10:41 da manhã  

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