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quarta-feira, 25 de junho de 2008

GUITARRA CLÁSSICA

A MÚSICA, O RUI PATO, O GRECO E EU
Histórias do Bairro
25-06-2008
Morrerei com um grande desgosto!
O de não ter conseguido nunca na minha vida aprender a tocar qualquer instrumento musical. Já antes aqui contei a minha tentativa frustrada, em criança, de tocar gaita de beiços. Logo aí a comparação com o Rui Pato me devia ter convencido das minhas incapacidades, mas...
Passados anos, numa altura em que o Rui Pato já era figura conhecida em Portugal inteiro pelos seus dotes musicais, voltei a ouvi-lo tocar no Greco, ao vivo.
O Rui Pato era e sei que ainda é uma pessoa pouco dada a exibicionismos, mas perante a nossa insistência acedeu a dar um memorável show na garagem do Greco, só para a malta do bairro.
Jamais esquecerei o deleite e a atenção com que todos o escutámos. Executou variados temas, mas aquele que ainda hoje tenho na memória, foi um samba brasileiro, numa época em que despontava o nosso gosto pela bossa nova.
O Rui Pato conseguia arrancar da sua viola uma sonoridade e um ritmo que dispensavam acompanhamento de qualquer outro instrumento.
Acontece que por essa altura, veio de Lisboa para Coimbra o mestre Duarte Costa, para dar aulas de guitarra clássica na Associação Académica.
Ainda zonzo pela lembrança da exibição privada do Rui Pato no Greco, fui inscrever-me no curso para iniciados do prof. Duarte Costa.
Pois se eu no liceu até tinha aprendido solfejo!
Até sabia que nos espaços de uma pauta as notas são, de baixo para cima Mi,Sol,Si, Ré e Fá e que nas linhas são Fá, Lá, Dó e MI.
E tinha mesmo ouvido falar em diapasão, claves, breves, semibreves, fusas, semifusas, colcheias e semicolcheias!
Não era, portanto, completamente analfabeto!
O Prof. Duarte Costa começou por nos ensinar a tocar um exercício muito simples a dois tempos. Uma valsa...
E explicou-nos a técnica de dedilhar as cordas, ensinando-nos quais os dedos da mão que em cada uma deviam ser utilizados.
Treinava sôfrega e exaustivamente em casa. Mas sentia uma enorme dificuldade em articular os movimentos desencontrados dos dedos da mão direita com os da mão esquerda.
Porém, com grande esforço, lá fui decorando as posições dos dedos das mãos.
E decorar é o termo exacto! Na verdade, eu não era capaz de corrigir algum acorde incorrecto só pelo som extraído da viola. Quando me enganava, reiniciava o exercício, lendo numa cábula que eu próprio desenhei em papel, as posições de cada um dos dedos nas cordas do instrumento.
Ao fim de uma semana de aulas, a cada um dos alunos foi mandado executar o exercício.
Lá me desenvencilhei como pude. Com o meu papel à frente...
No final o Duarte Costa explicou-me que a técnica musical exige algum treino e rotina, mas que o seu domínio não é suficiente para se tocar boa música.
- Mais importante e imprescindível é ter ouvido!
E rematou:
- Você quer tocar guitarra como quem resolve um exercício de matemática.
- Com toda a sinceridade, aconselho-o a desistir do curso.
Caí na realidade e aceitei o conselho.
Mas ainda hoje, quando se proporciona, em reuniões de amigos, pego numa viola e toco a tal valsa. Faço um figurão ...
Texto de Rui Felício

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5 Comentários:

Blogger Rui Felicio disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

12:05 da tarde  
Blogger Rui Pato disse...

Também ainda sei tocar essa valsa!
Obrigado por me teres recordado esse detalhe e pelos elogios que só se justificam pela amizade e pela tua grande carga de afecto.

1:46 da tarde  
Blogger Rui Felicio disse...

Ainda bem que te lembras Rui.. Se não me atrapalharem muito, se me deixarem estar concentrado e se a isso tu te dispuseres, quem sabe finalmente eu tenha a honra de tocar ao lado do grande Rui Pato no Ten Eighteen

Seria uma bela frase para o meu epitáfio:

Aqui jaz o Rui Felício que pouco ou nada de importante fez na vida, salvo tocar ao lado do Rui Pato

5:18 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Rui Felício,
não fiques triste, se isso te pode consolar, digo-te que eu depois de ouvir o Rui Pato a tocar, apetece-me partir a viola! Mas não o faço,e ponho-me a tocar sozinho e sonho que estou a tocar como o Rui!

Não penses nisso, bola para a frente e fé em Deus.
Alfredo

10:32 da tarde  
Blogger Rui Pato disse...

Isto é tudo malta muito simpática...
Depois de 33 anos a tratar pulmões e mais 5 a gerir hospitais,vocês vão ver que estão todos com a mesma performance guitarrística que eu.

8:51 da manhã  

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