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segunda-feira, 30 de junho de 2008

DESPORTO E TRABALHO

Histórias do Bairro
Desporto e Trabalho
30-06-2008
- O Senhor por exemplo, como jogador de futebol da Académica, não está a praticar desporto, na verdadeira acepção da palavra.
- Não? Então jogar futebol não é desporto, Sr. Doutor?
- Futebol pode ser desporto, mas no seu caso não é! Como sucede aliás praticamente com todos os restantes jogadores da Académica.
Assisti a este diálogo numa aula de Economia Política II, entre o regente da cadeira, conhecido por Zéquinha e o jogador da Académica de alcunha Kéu-Kéu.
Lamentavelmente, não me recordo dos seus verdadeiros nomes.
Mas tenho presentes com nitidez as imagens das fisionomias de ambos.
Zequinha, o Professor, era pequenino, muito magrinho e pouco mais velho que os alunos. Não devia pesar mais do que 55 quilos.
O Kéu-Kéu, vivia num quarto alugado na Rua do Brasil e algumas vezes passou pelo bairro. Era um caboverdiano matulão, jogador pouco utilizado da equipa da Académica, que frequentava Direito tal como eu.
Recebeu essa alcunha porque quando queria dizer “Porque eu...” , o seu sotaque africano cerrado levava-o a pronunciar “ Porqéu..., porquéu...”.
Debatia-se na aula, a diferença entre Trabalho e Desporto, e o Professor explicava que uma actividade desportiva passa a ser caracterizada como trabalho a partir do momento em que a sua prática é remunerada por um pagamento, seja ele em dinheiro, em espécie ou de ambas as formas.
Como se sabe, era o que se passava na Académica que garantia e suportava os custos dos estudos e alojamento aos seus jogadores de futebol . Para além de remuneração adicional em dinheiro.
O Zéquinha, para reforçar o que dizia, exemplificou:
- Eu, por exemplo, sou pescador desportivo. Passo horas esquecidas à espera de capturar um peixe, no rio ou no mar.
- Mas, como sou desportista, é-me indiferente pescar um peixinho pequeno ou um grande!
Comentário pronto do Kéu-Kéu:
- Bom, Sr. Doutor, no seu caso, se algum dia pescasse um peixe muito grande, não estaria aqui para nos contar!
- Ora essa, porquê?, inquiriu surpreendido o Professor
O Kéu-Kéu, explicou:
- Porque no dia em que um peixe grande morda o anzol da sua cana, o Sr. Doutor, com esse físico, será certamente arrastado pela força do peixe para as profundezas das águas.
O Zéquinha era uma pessoa com senso de humor e riu-se. Se fosse um daqueles catedráticos muito emproados que por lá havia, o Kéu-Kéu tinha passado mal...
De Rui Felício

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1 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Reforçando o que o Felicio falou sobre o Keu-Keu de seu nome Almeida. Veio jogar para os Juniores da Academica e foi contemporaneo do Rosa e do Alvaro.Alem de ter morado na Rua do Brasil, acabou por vir morar na praceta do Clube, onde estiveram o Toni, o Pedrosa, o Belo e o Silvestre.Alem do por"queu", quando se perguntava : Almeidita queres uma mini?...dizia que queria mas assim... keu-keu.
Na primeira oral que o Almeidita fez nos Direitos, o bedel não o deixou entrar por não ter gravata. Eu que andava por perto e de capa e batina, lá tirei a gravata preta para lhe emprestar. Devia ter dado sorte , porque o Almeidita passou nessa cadeira.
Velho Apache

9:59 da tarde  

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