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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

'O POLIGROTA'*

É verdade matemática que ninguém pódi negá,
que essa história de gramática só serve pra atrapaiá.
Inda vem língua estrangêra ajudá a compricá.
Meió nóis cabá cum isso pra todos podê falá.

Na Ingraterra ouví dizê que um pé de sapato é xu.
Desde logo já se vê, dois pé deve sê xuxu.
Xuxu pra nóis é um legume que cresce sorto no mato.
Os ingrêis lá que se arrume, mas nóis num come sapato.

Na Itália dizem até, eu não sei por que razão,
que como mantêga é burro, se passa burro no pão.
Desse jeito pra mim chega, sarve a vida no sertão,
onde mantêga é mantêga, burro é burro e pão é pão.

Na Argentina, veja ocêis, um saco é um paletó.
Se o gringo toma chuva tem que pô o saco no sór.
E se acaso o dito encóie, a muié diz o pió:
''Teu saco ficô piqueno, vê se arranja ôtro maió'...

Na América corpo é bódi. Veja que bódi vai dá.
Conheci uma americana doida pro bódi emprestá.
Fiquei meio atrapaiado e disse pra me escapá:
Ói, moça, eu não sou cabra, chega seu bódi pra lá!

Na Alemanha tudo é bundes. Bundesliga, bundesbão.
Muita bundes só confunde, disnorteia o coração.
Alemão qué inventá o que Deus criou primêro.
É pecado espaiá o que tem lugar certêro.

No Chile cueca é dança de balançá e rodá.
Lá se dança e baila cueca inté a noite acabá.
Mas se um dia um chileno vié pro Brasir dançá,
que tente mostrá a cueca pra vê onde vai pará.

Uma gravata isquisita um certo francês me deu.
Perguntei, onde se bota? E o danado respondeu.
Eu sou home confirmado, acho que num entendeu,
Seu francês mar educado, bota a gravata no seu!

Pra terminar eu confirmo, tem que se tê posição.
Ô nóis fala a nossa língua, ô num fala nada não.
O que num pode é um povo fazê papér de idiota,
dizendo tudo que é novo só pra falá poligrota...

(Autor desconhecido nordeste brasileiro)

Isabel Carvalho


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3 Comentários:

Blogger Isabel Melga disse...

o Brasil é grande e o espírito daquela gente é tão grande como a terra que eles pisam! Tudo lhes acontece, doenças, dilúvios, assaltos, pobreza, mas sabe-se lá aonde eles vão buscar tanta energia e alegria??? É mesmo uma arma de sobrevivência! Só pode! Trocam a lágrima pelo sorriso, e a tristeza pelo samba! Aprendam com eles! Bom fim de semana prolongado! mesmo com chuva é gostoso! Não posso fazer programas tenho um Concerto às 17 horas de Domingo no Seminário se quiserem ir é nas traseiras do Jardim Escola ao lado do Hospital Militar, Abraço da Melga

12:53 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Sobre os versos, não há dúvida que é preciso muita imaginação e jeito!
Sobre o Brasil... que País faboloso!
Sobre o povo, só tenho a dizer bem!
Já pensei ir para lá viver a reforma! A ver vamos!!!!
Alfredo

8:13 da manhã  
Blogger Manuela Curado disse...

Deliciosos estes versos impregnados de ingenuidade popular.
Gostei Isabel... Dá para começar bem o dia.

9:31 da manhã  

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