A VARANDA DOS MEUS SONHOS( parte II)
O dia é quente e o sol brilha..
Na mesa a canja fumegante.
Um delicioso cheiro inunda a casa, abrindo o apetite.
O vozear dos pais, tios, primos e alguns amigos.
A brincadeira, a chalaça, a anedota e alguma adomestação... o riso, o
abraço e o beijo.
O arroz doce e o leite de creme por sobremesa.
Alguns dos homens puxam o fumo de um cigarro e para encanto da
pequenada, fazem bolinhas no ar.
-Rápido... alguém comenta. Estão a chegar!
A mesma varanda.
De novo, os olhos espreitando por entre as pernas dos adultos.
Lá ... muito em baixo, as sucessivas buzinadelas de carros coloridos
de mil e uma flores.
Sobre eles...rapazes... muitos rapazes... e só rapazes, entoam
cânticos de alegria.
As varandas estão enfeitadas de um mar de capas negras.
Princesas, em chiques vestidos, nelas se debruçam agitando lindas
pastas castanhas de fitas multicolores.
Na rua, mais fitas e cartolas, amarelas, roxas, azuis e encarnadas,
num emaranhado e gigantesco arco-íris.
Devem estar contentes...Saltam, dançam e cantam.
Devem ter sede...Garrafas rodam de mão em mão.
Rufam tambores.
Chamam-lhe a "FESTA DA QUEIMA DAS FITAS".
Como sempre, o rio Mondego é banhado por grande clarão
A "PANTA", simpática perdigueira preta e branca... espreita também.
Impaciente e amedrontada, puxa o laço do meu bibe.
.
Fecha-se a varanda.
Correm-se os cortinados.
Apaga-se a luz.
São horas de adormecer.
Longe...sussurrados ... os últimos F - R - ÁS.
NelaCurado
Etiquetas: Escritos, Nela Curado
8 Comentários:
Nelinha!No dia em que se festejam os 75 anos de Leonard Cohen, é bom ir para a caminha com a beleza poética desta tua belissima (comme d'habitude)descriçao de mais uma das multiplas cenas da vida coimbrä!Que maravilhosa prenda!!
Na dita varanda de um quinto andar, na Rua Ferreira Borges, a minha irmã, meu primo Rui Mesquita e a nossa companheira, a perdigueira PANTA.
Este comentário foi removido pelo autor.
F-R-Á para os "habitantes" desta
varanda com estórias mui especiais
para eles...
Olinda, eu suponho ser uma história para todos... enfeitada com laçinhos particulares.
Passeando na Baixa e olhando o prédio, recordei os meus três anos e o que talvez vocês não recordem.
Uma época em que estavam vedadas às mulheres as mesmas paródias, o mesmo sucesso, a mesmas euforia.
As raparigas universitárias eram uma parte ínfima do universo estudantil, não usavam capa e batina, não vinham para a rua e não partilhavam da mesma alegria.
Contenção... muita contenção.
Era a ordem do dia.
Claro,são extensivas a nós todos/as !
Olinda
Qué'feito da Olinda?
Tás a ver miúda como todos temos saudades de ti?
Falta a tua graça brejeira...
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