ATRIBUTOS QUE AGORA DESCONHEÇO...

FACETA HUMANA
(Publicado a 24 de Maio 2OO9)
Vivia-se tranquilamente naquela pacata aldeia do interior.
Desde sempre, as mesmas famílias, os mesmos costumes, as mesmas zangas e os mesmos afectos.
Ao Domingo repicava o sino na alva torre da Igreja.
Fraternamente, todos se dirigiam para lá e de mãos dadas na mesma ânsia, pediam sorte e saúde para os seus, para os vizinhos e para os ausentes que de muito longe davam novas do seu bom ou mau estar.
Dedicavam-se à agricultura e ao pastorício.
Quando o sol ía alto ou o cansaço os apartava da terra, os homens reuniam-se na taberna do TI ZÉ.
Homem bondoso, pachorrento, alegre e bom ouvinte, passava os dias servindo copinhos de vinho e alguns petiscos, aos seus confrades..
Já o pai, exercia este mesmo mister.
Certo dia, inusitada alegria transborda na pequena aldeia.
Fora anunciado o regresso do fillho do João, que Deus tenha em descanso... dizia-se à boca fechada.
Pequeno matreiro e espertalhão, mal chegara a puberdade, debandara em procura de melhor vida.
Todos esperavam ansiosos, a chegada do filho pródigo.
O roncar de um motor aproxima-se.
Todos correm para o adro da Igreja.
Saindo de um enorme carro, um indivíduo alto, sorrindo desbragadamente , dente de ouro, reluzindo ao sol.
Abraços, lágrimas e gritos de alegria... tudo à mistura.
Foi recebido em apoteose.
Passados dias, para espanto dos aldeões, caminheta e homens desconhecidos, irrompem pela pequena mas principal azinhaga da aldeia.
A novidade atordoou os ouvintes.
Francisco... assim o seu nome, iria ser proprietário de um belo café e para maior espanto, ainda,paredes meias à tasca do TI ZÉ..
Após alguns dias abrem-se as portas.
Azulejos brilhantes, mesas de tripé, balcão inox..
Aos poucos, ofuscados e iludidos com tanto brilho, todos vão abandonando a velha tasca do amigo.
Ávido de progresso financeiro, o proprietário do novo café, fomenta jogos de azar e as discórdias e richas, são constantes.
Numa pardacenta manhã, Ti ZÉ, de ombros caídos e olhar baço, despede-se do espaço onde ele e tantos amigos foram felizes.
A chave roda soturna e em passos lentos...um homem triste afasta-se perseguido pelo sorriso indecoroso de um grosseiro dente dourado.
Nela Curado
3 Comentários:
Muito bem!
Está na Vogue?
Já lá vai o tempo, meu amigo!...Já lá vai o tempo!...
Vaidosa!
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