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sábado, 28 de janeiro de 2012

DOMITÍLIA HORMIZINDA MIRANDA DE CARVALHO

1871 - 1966

DEPUTADA DO ESTADO NOVO


Domitila de Carvalho notabilizou-se pelos três cursos que frequentou na Universidade de Coimbra, pela acção a favor da educação das mulheres na defesa da criação do primeiro Liceu feminino, pela participação em iniciativas feministas e pacifistas, sendo Monárquica e católica, e por um percurso político que a levou a pertencer ao grupo as três primeiras deputadas do Estado Novo.

Face aos excelentes resultados nos exames finais do curso dos liceus e a instâncias dos professores e da mãe, candidata-se, em 1891, ao ensino superior, sendo a primeira mulher a assistir regularmente às aulas. Este acontecimento mereceu inúmeras referências elogiosas na imprensa da época, pelo facto pouco vulgar mas tão promissor para as outras mulheres que lhe quisessem seguir os passos.
Depois das licenciaturas em Matemática (1894) e Filosofia (1895), concorre ao lugar de astrónoma no Observatório D. Luís I. O lugar não lhe é atribuído por ser mulher apesar de ter ficado em primeiro lugar. Decide então seguir Medicina (1904) aproveitando as cadeiras comuns dos primeiros anos dos outros cursos.

A convite da rainha D. Amélia vem, em 1904, trabalhar para Lisboa, na recém criada Associação Nacional da Tuberculose. Presta serviço no Centro Materno-Infantil que abre as portas na que foi depois a Maternidade Magalhães Coutinho e exerce, por pouco tempo, clínica privada com consultório no Rossio. Os problemas de saúde resultantes dos deficientes ou nulos cuidados das mães, leva-a a proferir algumas conferências alertando para a necessidade de se educarem as mulheres na perspectiva de que elas são as primeiras educadoras e as melhores agentes de mudança. Mais tarde, quando deputada, será da sua autoria a integração no currículo escolar liceal da disciplina de Higiene e Puericultura.

Numa época em que a instrução e educação das mulheres raras vezes ultrapassava a esfera doméstica e quanto muito o ensino primário superior, defende a igualdade oportunidades entre homens e mulheres empenhando-se na transformação da Escola Feminina Maria Pia, no primeiro Liceu feminino em Portugal, o Liceu Maria Pia (1906). As palavras de boas vindas às novas alunas, como primeira Directora (Reitora), reflectem o seu pensamento e independência de acção, regozijando-se com a oportunidade de, pelo estudo, as jovens virem a ser respeitadas e livres de opção de vida. Até à aposentação, a leccionar a disciplina de Matemática nesse Liceu, foi constante a sua preocupação em favorecer a educação e instrução das alunas, porque acreditava que deste modo as mulheres, como primeiras educadoras, poderiam transformar a sociedade e esbater as diferenças sociais que as separavam dos homens.

Sob a perspectiva, de que é na família que as mulheres têm um lugar privilegiado para educar para a paz e entendimento entre os homens, se insere a militância pacifista que a levou a integrar a Secção feminista da Liga Portuguesa da Paz, tendo secretariado a sessão pública da sua constituição (1906). Foi igualmente Vogal do Comité Português da agremiação francesa La Paix et le Désarmement par les Femmes.

Em 1909 assina a lista dos defensores do divórcio, publicada no Jornal O Mundo e promovida pela Liga Republicana das Mulheres Portuguesas. Contrariamente, em 1912 é duramente criticada pelas feministas porque recusa apoiar o sufrágio feminino. As duas atitudes são determinadas pela independência que norteou o seu pensamento. O divórcio permitirá às mulheres adquirirem a liberdade face a um casamento que não resultou mas só depois de instruídas e educadas elas poderão fazer uma opção livre e consciente, sem serem coagidas afectivamente a uma escolha. Se as preocupações eram, nesse momento, a educação e instrução das mulheres, anos mais tarde a actuação revester-se-ia de outras formas e viria a pertencer ao grupo das três primeiras deputadas do Estado Novo.

Estreou-se na imprensa escrita, ainda muito jovem, com a publicação de sonetos. Alguns desses poemas, reuniu-os depois em livros, como marcos de três momentos de sensibilidade poética, numa vida que foi longa: Versos (1909), que foi escrevendo na juventude, com prefácio de Afonso Lopes Vieira, seu condiscípulo em Coimbra e dedicado à rainha D. Amélia; Terra de Amores (1924) ou saudades de Coimbra e do tempo em que lá viveu e estudou, Para o Alto!, (1957) o livro que João Ameal considerava de um lirismo dramático e piedoso com "uma fé segura dos rumos definitivos".
A colaboração literária na imprensa de todo o país, estendeu-se também à imprensa feminista e pacifista. A participação nas revistas Sociedade Futura e Alma feminina, ainda que se tenha remetido à publicação de poemas e um artigo de carácter científico, reflectem a identificação com os ideais que vinham sendo defendidas – a igualdade de direitos cívicos, políticos e sociais entre os sexos.

Sempre fiel aos seus princípios e profundamente cristã, devotou uma enorme gratidão a Rainha D. Amélia que custeou os estudos na Universidade de Coimbra. Apoiou Sidónio Pais na obra social "5 de Dezembro" e aplaudiu o restabelecimento das relações entre o Estado e a Igreja. A Salazar, grata pela acção em prol da reconstrução do País, aceitou "como um dever" representar as mulheres, pela primeira vez, como deputada na Assembleia Nacional em 1934. Fê-lo, sempre consciente dos princípios ideológicos do Estado Novo, mas consciente do privilégio que lhe foi dado de poder dar voz às muitas mulheres que a não tinham. Sempre atenta às desigualdades sociais e fiel à independência de acção com que orientou a sua vida, não hesitou, no entanto, em defender publicamente o que considerava adequado aos tempos e às necessidades das mulheres. Já aposentada escreveu a Salazar a mostrar a sua concordância sobre o casamento as enfermeiras ou das telefonistas. Não consta que Salazar tenha discordado dos seus argumentos.

Margarida Carvalho

1 Comentários:

Blogger Manuela Curado disse...

Não só não discordou como apoiou.

Minha mãe nasceu em 1919.


Em 1934, tinha 15 anos.

Foi-lhe concedida, uma autorização especial, assinada por António Salazar, para frequentar o Curso de enfermagem na Escola de Enfermagem Dr. Angelo da Fonseca, na cidade de Coimbra que termina com bom aproveitamento.

O diploma está orgulhosamente colocado na parede da da sala de estar.

Em 194O, contrai matrimónio oficial e religioso com António Henriques Curado continuando ininterruptamente a sua atividade como enfermeira.

Está assim posta de lado a mentira descarada que já vi diversas vezes relatada, da proibição do Estado Novo em relação ao casamento das mulheres enfermeiras.

Tenho dito

6:48 da tarde  

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