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sábado, 29 de dezembro de 2012

NATAL DE QUEM?

Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.
- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei !
- Está bem, eu sei !
- E as garrafas de vinho ?
- Já vão a caminho !
- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei ?
- Não sei, não sei...
Num qualquer lado,
  Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino Murmura baixinho:

- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu ?

Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente !
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido :

- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu ?

Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho :

  - Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu ?

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão !
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:

  - Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu ?

Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim ?
Não tive tecto nem afecto !
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz :

- Foi este o Natal de Jesus ?!!!

(João Coelho dos Santos - in Lágrima do Mar - 1996)

O meu mais belo poema de Natal
 

1 Comentários:

Blogger Titá disse...

Não conhecia o poema, nem o autor.
Interessante!

7:13 da tarde  

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