COIMBRA

SANTA CLARA
O Convento de Santa Clara, que se ergue, já enegrecido, da banda de lá do Mondego, inspira-me sempre um recolhimento especial: ás tardes, depois das aulas, e enviados alguns vintens pela rodela do palratorio, chegam fôfos e quentes os pasteis, que as freiras fabricam e vendem. É curioso que o unico contacto, que eu conheço, que elas têem com o mundo profano, é o dinheiro, que tenho ouvido dizer que é o vil metal, meio forjado no inferno! Mas, comidos os pasteis, que são sempre pagos adiantadamente, fico-me a contemplar a cidade, cá do alto, e de lá vejo a minha casa, na rua da Trindade; lá em baixo passa o comboio, e pela estrada de Lisboa lá vão os carros de bois, carregados, a gemer a sua toada monotona e triste. (…) São horas de ir até á baixa; os companheiros de casa ficaram a jogar o bilhar no Montanha; desço a rampa ingreme que conduz á ponte. Ha tricanas que, aos ranchos, vão, descalças, ajoujadas com cestos á cabeça, estrada fóra, andando ás vezes leguas e leguas. Passam, olho-as em enlevo: são vivas, trabalham, produzem, amam e rezam. Nelas é que vejo a beleza da Vida, á qual volto com alegria, para esquecer as sepultadas de Santa Clara. Coimbra -
Maio - 1905.
Herlander Ribeiro; 1936: 17/19
Etiquetas: JOTTA ELLE
2 Comentários:
Homens puramente enlevados...já não os há... mulheres com as caraterísticas, então desejadas...já foram...e até os pasteis de Santa Clara já estão desvirtuados!!!
Mas ainda são bem bons, Nela! E os homens e as mulheres de agora olha são diferentes. Uns "comestíveis" outros nem tanto. Mas que seria a vida sem esta diversidade?
Não conhecia o texto mas gostei.
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