Muito se tem especulado aqui sobre gerações dentro do Bairro. Não vale a pena ignorar que existiram, embora seja difícil fazer uma divisão. Alguns passaram até por várias. Ao longo do tempo foram-se fazendo e desfazendo certas associações. Agora se fixarmos as nossas idades mais ou menos entre os 15 e os 20 anos, subscrevo quem há tempos identificou três. No entanto, em vez de anos vou usar nomes, digamos que para facilitar. Então é assim (atenção: os
Apaches são um caso à parte!):
Greco: a velhada, que teve esta magnífica iniciativa (Abílio, Gil, o meu irmão Afonso e afins). Gente sensata, que dançava de uma forma esquisita, bebia vinho, fumava e ainda foi a tempo de ouvir os Beatles;
Kamuc: os yé-yé, onde pontificavam o Jorge Carvalho, Abegão e restantes . Rapazes e raparigas de bem, muito intelectuais, que bebiam cerveja, fumavam coisas e que pairavam pelo Mónaco/Xitimelo e por vezes pelo Samambaia (que saudades do
Lopes,
Casimiro e
Brites,...);
Ferrão, Dias e Companhia (onde me incluo eu). O nosso poiso era mais o Vasco da Gama e o Centro. Também fizemos algumas incursões terroristas no Samambaia, para chatear o dono que era brasileiro. Não éramos um grupo misto (mas não éramos andróginos!). Por isso não tínhamos poiso, que isso era para quem queria tirar o máximo “usufruto” da convivência multi-sexista
no Greco- Kamuc. Éramos javardos, de um humor muito terra à terra, bebíamos vinho e, os que gostavam de música, afinavam mais pelo diapasão de Woodstock. Os mais mansos também lamberam um pouco de Beatles. Num certo sentido eu diria que fomos uns Neo-Apaches, para melhor claro!
Mas também passei pelo Kamuc. No início, ainda muito tenro, era para ir chamar a minha irmã Belinha, a mando do meu pai, tentando evitar consequências para as futuras saídas nocturnas dela. Mais tarde lá assisti a alguns momentos musicais com o nosso nefrologista Cândido a beber uma colher de azeite para olear as cordas vocais, e a cantar apenas com o hemitórax esquerdo (?!). Finalmente presenciei uma cena de revolta e destruição do Kamuc levada a cabo pelo Abegão (futuro
General) e pelo João Carlos (mais conhecido por
Veneno) quando souberam que tinha sido chamados para a tropa. Coitadas das manas Abegão e da Olinda a tentar acalmar os moços! Graças a tudo isto, ao meu conhecimento descomprometido daquele Jardim de Éden, muitos anos depois, servi de testemunha no processo de despejo do Kamuc que o senhorio intentou, porque, tendo cessado a razão de ser daquele espaço, ele queria reaver aquela sequência linear de três garagens para lá colocar, pasme-se, um depósito de electrodomésticos. No julgamento, quando interrogado sobre se havia uma janela na parte do fundo do Kamuc, disse que sim. Foi-me então mostrada uma foto da dita parte, onde se podia ver no topo uma pequena fresta. Queria com isto o ilustre juiz concluir que eu não conhecia o local dos crimes. Logo não era testemunha da nada. Resultado: obrigou-me a estar mais de 30 minutos a discorrer sobre a semântica do conceito “janela”. Ganhei por esgotamento do magistrado (técnica que o Pinto da Costa e o Major Valentim Loureiro copiaram, sem pagar royalties...). Ainda hoje tenho esta mania de falar sem parar! Cala-te então.
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