
Esquecidos os vivas
“à Revolução Social” e
“à inconsolável viúva do padre António Vieira”, lançados e popularizados
pelo Pad-Zé, sem dúvida que só o
F-r-á conquistou direitos de cidade entre a
Malta coimbrã.Não será curioso, então, fixar o momento em que
tal brado se radicou na Academia de Coimbra ? Cremos que sim e, por isso, redigimos este apontamento.
Quando – ainda não era, sequer, morrão de candeia – comecei a assistir a desafios de futebol, ouvi,
uma e muitas vezes o Ribeirinho ( capitão de equipa ), tenente dos artilheiros…capitão dos carvoeiros, lançar o clássico “hip-hurrah”.Por essa mesma altura lembro-me de ter ouvido um outro grito que creio ter tido apenas uma vida episódica e de que recordo só a parte final: -
“Carvão, meninas…”.O
“ hip-hurrah “ era, entretanto, de uso generalizado e só os rapazes da
República dos Grilos utilizavam a voz do seu insecto totémico para grilarem o seu
“ cri-cri, cri-cri e os bichos o erudito
“ Hic, haec, hoc “ ou o “ Qui, quae, quod “.Outros brados tiveram memória transitória ;
“ala-ala-arriba”, “ Cow-boy… tau-tau-tau… Allô, sheriff “ e o do “ …pico-pico… meia-hora “ mas, como inicialmente observámos, só o
“ F-r-à “ se radicou fortemente e foi alastrando de um curso para a Academia, começando a ser o brado distintivo
dos desportistas académicos e dos elementos dos organismos culturais da Academia – e com eles se faz ouvir de Norte a Sul de Portugal, nos relvados, nos rinques, nas piscinas, nos teatros, nos salões de recepção e nas ruas.
Vejamos, então, a sua origem:
Foi em 1937 que um grupo de estudantes brasileiros estagiou em Coimbra,tendo ficado instalados nas Repúblicas então existentes. Foram, precisamente,
estes rapazes que trouxeram para Coimbra o F-r-à, que,
aliás, como toda a semente de planta que se preza, levou algum tempo a germi-
nar – um ano, exactamente – mas depois se enraizou como sabemos…
Recordada a sementeira, vejamos como se deu a eclosão da planta e o jar-
dineiro a quem se deve a obra.
Na
Queima das Fitas de 1938 os festivais realizaram-se
no Jardim Botâni-co. Numa das noites juntou-se um grupo bastante grande
que resolveu fazer pé de vento. Propostas, apreciadas e recusadas várias sugestões, fixámo-nos em duas que recolheram a unanimidade dos sufrágios:
o irmos cantar às meninas uma parte de uma canção que começava pelo verso “Deixa essa triste cara…” e lançar como brado o
F-r-à. O que é certo é que foi o Divaldo, que acompanhara os seus compatriotas no ano anterior e que aprendera ( e ainda bem que recordou ) o
Frá, fré, fri, fró, fru ,que deu a primeira sugestão e dito e feito, após meia dúzia de ensaios iniciou-se a digressão de todos os
quintanistas de Medicina presentes que formaram um cordão que
cercou as moças consideradas jeitosas e… e despejaram a cantilena.No dia seguinte ( 27 de Maio ) quando chegámos ao festival, à futrica, encontrámos muitos grupos, grandes e pequenos, de académicos, fitados, grelados e sem insígnias, que cantavam por todos os cantos o
“ Deixa essa triste cara, em que ninguém repara…” e por todos os cantos bradava
“ F-r-á, frá; f-r-é, fré;…”. A sorte estava lançada…
…E quanto ao
“F-r-á” não se pode dizer que a sorte lhe tenha sido madrasta.